terça-feira, 6 de abril de 2010

IT Victim V

Metrô lotado. Desci na estação Consolação e resolvi caminhar até o escritório. Calor demais. A agenda cheia de cartões de visita pesava um pouco. Trânsito caótico, buzinas, fumaça. Fumaça demais. Uma paradinha no orelhão. O telefone da minha cunhada estava ocupado. Tentei mais uma vez. A ficha não caiu. Puxei o gancho e ela veio, tilintando. Quente. Arrumei o esparadrapo que coloquei em cima da bolha, no calcanhar. Mostrei o crachá para o porteiro. Autorizou. Elevador revestido com fórmica branca. Alguém riscou um palavrão perto do número do meu andar. Bati o cartão. Vinte e dois de março de 2010. Duas pilhas imensas de papel sobre a minha mesa, bem ao lado da máquina de escrever. Não pude nem ligar o ventilador. Praguejei. Fui beijar o porta retrato com a fotografia do Bruninho e vi o gravador com a fita cassete da reunião de ontem. Achei que minha chefe ia pedir para aquela outra transcrever a fita no livro de ata. Sobrou pra mim outra vez! Vacas. Levantei e passei pelo arquivo. Comecei pela gaveta 21A, depois 36 e 50B. Mais de cem delas. Pastas suspensas cor de burro quando foge. Pastas demais. Por cima do arquivo, as poliondas verdes empilhadas. Eu suava. Na copa, o bebedouro vertia água morna, com gosto de cano. Voltei para a mesa, irrequieta. O couro da cadeira grudava na minha perna.

Pedi a linha externa para a telefonista. Demorou um bocado. “Alô? Cunhadinha? Oi! Como? O PABX está ruim! Linha cruzada? Alô? Alôôô?” Caiu a linha. Mãos úmidas. A chefe veio com mais papéis. “Tira xerox e manda por fax o que der. O resto manda pelo correio. Ainda tem selos?” O suor desceu pelas minhas costas. “E você vai precisar ir ao banco depois do almoço.” Senti palpitação. “São contas pessoais minhas. Só confio em você. Quero tudo autenticado e carimbado no caixa. Passa na minha sala quando for descer e pega o cheque”. Vertigem. Cabeça girando. Ligo para o meu marido. Preciso ir para casa. Calor! Calor! Ele tenta me entender: “LP de quem? Não existe esse disco, meu amor... Livin’ o quê? La Vida Loca? Nunca ouvi falar, mas posso te levar na Galeria do Rock no sábado. Você está bem?” Bati o telefone na cara dele, comecei a tremer, chutar, me debater, fui virando e... PÁ! Caí da cama, assustada. “Nivaldaaaaaa!!!!” Gritei, tonta de sono. Ela veio correndo: “Sim, senhora?” “O Rick Martin existe, né?” “Existir ele existe, mas a senhora soube que ele é...” “Cala a boca, Nivalda! Isso eu resolvo com meu psicanalista!”

Um comentário:

  1. mais um... assim vc que fica me devendo, hahahahah... o Ricky Martin não é...

    ResponderExcluir